O que é mística?
O que é espiritualidade?
Quem tem mística e espiritualidade?
Por que falamos de mística e espiritualidade?
Estas perguntas estão no coração de nossa juventude espalhada por Nossa América.
É claro que as respostas serão, dentro de cada um, de cada uma, bem diferentes, mas irão se complementar no cotidiano da caminhada que fazemos em conjunto.
Todos/as nós carregamos em nossas entranhas o sopro e o espírito divinal, portanto, somos desde o nascimento, envolvidos de Mística e de Espiritualidade.
Falamos de Mística e de Espiritualidade porque somos discípulos e discípulas do Moreno de Nazaré. É bem verdade que, mais do que falar, nós sentimos a Mística e a Espiritualidade dEle. É o que nos motiva a entrar na luta pela defesa cotidiana e constante da Vida no Reino.
Falamos aqui da Mística e da Espiritualidade Cristã e da Libertação, onde a juventude deste Continente sempre foi vista como impulso e revitalização da Igreja, independente do cenário que possa estar em vigor. Vedoato (2008) em seu livro Teologia, Teologia da Libertação, Pluralismo Religioso, nos diz que espiritualidade libertadora é aquela que segue os ensinamentos da Teologia da Libertação e, em termos de uma cristologia da libertação, significa um agir de fé à luz do espírito de Jesus, efetivando no palco histórico uma verdadeira opção evangélica pelos pobres. E ele segue dizendo que nos nossos dias o prosseguimento de Jesus como espírito torna-se o fundamento central para situar e entender corretamente a espiritualidade cristã. Para efetivamente concretizar a espiritualidade cristã libertadora no seio do continente latino-americano, propõe-se os seguintes passos:
1º. Passo: Considerar a realidade latino-americana como uma realidade de contradições, muitas vezes ao avesso da oração do Pai Nosso.
2º. Passo: Frente a essa realidade, renunciar a qualquer postura de indiferentismo e provocar uma leitura teologal dessa mesma realidade.
3º. Passo: Efetivar à luz da fé, uma práxis com o objetivo de lutar contra toda pobreza e exclusão, contra toda forma de vitimação da vida, contra toda forma de desrespeito ao diferente e contra toda forma de negação de Deus como o Deus da vida.
4º. Passo: Procurar realizar essa prática tanto de forma individual quanto comunitária, buscando criteriosamente discernir pessoas e organismos que possam ajudar nessa ação.
5º. Passo: Não esquecer de sempre alimentar-se da fonte, da mola propulsora de toda esta práxis: Jesus Cristo.
Falamos aqui da Mística e da Espiritualidade que borbulha dentro de nossa Pastoral da Juventude: O Mistério Pascal do Moreno de Nazaré.
Muitos jovens vieram antes de nós e testemunharam os ares da abertura do Concílio Vaticano II, de Medellin, de Puebla; se colocaram em missão e levaram o Evangelho a todos os cantos deste Continente. Somos frutos destes testemunhos proféticos; somos frutos da libertação de uma teologia européia para uma Teologia da Libertação, onde tem como centro o Moreno de Nazaré e sua prática e pedagogia libertadora em direção aos Pobres.
Muitas cruzes foram levantadas, sangue inocente foi derramado por causa da Palavra germinada nestas terras continentais, de rostos indígenas, negros e brancos.
Nossa Mística e Espiritualidade é martirial.
E com o sangue de nossos/as mártires não se pode brincar.
Nossa Mística e Espiritualidade é diaconal.
Nossa Mística e Espiritualidade é de comunhão.
Nossa Mística e Espiritualidade é de anúncio e de denúncia.
Nossa Mística e Espiritualidade é de defesa constante da Vida.
No Brasil, na Nossa América Afro-Latíndia, o compromisso com as causas do Reino, nas causas do Povo, fizeram da Pastoral da Juventude, um ponto de encontro, um porto seguro, para as discussões sócio-políticas, religiosas e econômicas, que não podem e nem devem ser vividas, entendidas e interpretadas separadamente. ..é o Caminho de Emaús a ser percorrido!
E não há caminho a ser percorrido sem cruz a ser carregada!
Falar de Mística e Espiritualidade nos dias atuais é encontrar em nós e na comunidade, o mistério que nos faz viver com os pés no chão, atentos aos apelos e aos clamores do povo, com o coração e os ouvidos bem abertos para o que Deus tem a nos dizer.
A palavra Mística tem sua raiz na palavra mistério (mysterion - em grego - Mc 4,11; 1Cor 2,1.7; Cl 1,27; Ef 1,9.).
A palavra Espiritualidade tem sua raiz na palavra espírito (ruah - em hebraico - Gn 2,7.).
Mística é o fio condutor, uma linha invisível que une a memória e os sonhos, que une a história e a utopia, que une o passado e o futuro, e que faz do presente uma grande festa, uma grande celebração, um grande banquete.
Espiritualidade é aquilo que faz no ser humano uma transformação; já diria Leonardo Boff.
Necessitamos do mistério. Necessitamos do invisível. Necessitamos do sagrado que sempre habitou em nós, mas agora surge com a força de águas represadas.
E desta água que iremos beber nunca mais teremos sede.
Indicamos alguns passos para o itinerário da Mística e Espiritualidade na Pastoral da Juventude:
1º. Passo: Fazer silêncio!
A juventude deve perceber que é no silêncio que Deus se revela a nós e nós nos revelamos a Ele; entender que ao calar nossas vozes internas e externas, todo o nosso ser se cala e aguçam-se nossos sentidos na esculta, na ausculta, daquele que vem.
2º. Passo: Pedir humildemente a ajuda do Espírito Santo!
É necessário pedir ao Pai que mande o seu Espírito. Pois, sem esta ajuda do Espírito de Deus, não é possível descobrir o sentido da Palavra proclamada pelo Filho para o seu povo hoje.
3º. Passo: A Leitura Orante da Bíblia!
A juventude deve subir os degraus:
Primeiro degrau: A Leitura: o que o texto diz em si?
Segundo degrau: A meditação: o que o texto diz para mim, para você?
Terceiro degrau: A oração: o que o texto me faz dizer a Deus?
Quarto degrau: A contemplação: ver o mundo em que vivemos com os olhos de Deus, saboreando o jeito de ser e agir de Deus; o quanto Ele é bondoso e o que faz por nós e para nós.
4º. passo: O Ofício Divino das Comunidades! (experiência e vivência litúrgica brasileira à luz da Liturgia das Horas em que o grupo de base se reune e faz sua revisão de vida, cantando e rezando juntos com os pés no chão.). No Brasil já se encontra os herdeiros desta tradição: O Ofício Divino da Juventude e o Ofício dos Mártires da Caminhada.
5º. Passo: A escuta do grito dos pobres e do grito da Terra: a Ecoteologia da Criação.
6º. Passo: Fazer descer da cruz os pobres.
7º. Passo: O contato com a literatura especializada sobre o tema!
E aí podemos indicar autoras e autores, Vera Bombonatto, Ivone Gebara, Maria Lopez Vigil (Um tal Jesus), Maria Freire da Silva, Terezinha Cavalcanti, Rose Marie Muraro, Maria Clara L. Binbemer, Delir Brunelli, Lucia Weiler, Adélia Prado, Claudete Ribeiro de Araújo, Nancy Cardoso, Luiza Etsuko Tomita, Silvana Suaiden, Leonardo Boff, Pedro Casaldáliga, Frei Betto, Gustavo Gutiérrez, Helder Câmara, Segundo Galilea, José Maria Vigil, José Ignacio Lopez Vigil (Um tal Jesus), Rubem Alves, João Batista Libanio, Frei Carlos Mesters, Jon Sobrino, Marcelo Barros, Paulo Suess, Jung Mo Sung, Luiz Carlos Susin, Faustino Teixeira, Pablo Richard, José Comblin, Clodovis Boff, Giovani Marinot Vedoato, entre outros que a pesquisa séria e dedicada irá fazendo brotar por si só.
Nossa Mística e Espiritualidade depende da disponibilidade do tempo que guardamos para estarmos em oração.
Toda oração é um diálogo sincero com Deus. É um diálogo onde nós O escutamos em plenitude. Orar a Deus é silenciar o nosso ser para que Ele fale.
Melhor do que explicar o que seja uma oração, é fazer uma oração a Deus.
Oração não é pedido, não é louvor, não é luta...
Oração é apenas oração.
É se colocar na frente de Deus por inteiro/a, como era no princípio.
É cantar uma linda poesia em forma de... oração:
Vou fazer uma oração (*)
Vou fazer uma oração
pedindo paz e proteção
para todos os seres humanos
todos os dias do novo ano
Vou fazer uma oração
para quem perdeu tudo
perdeu casa, perdeu amores
tudo que era bom e profundo
Vou fazer uma oração
pensando no futuro de nossa gente
no presente desta semente
jogada neste chão
No chão da vida, nasce o povo de Deus
No Deus da vida, nasce o povo dos céus
Vou fazer uma oração
pedindo força e harmonia
para quem chorou
pra quem deseja sabedoria
Eu vou fazer uma oração
no momento da despedida
no carinho do abraço
no sorriso da menina
Vou fazer uma oração
pra consolidar a nossa amizade
pra bendizer toda a juventude
caminho de fraternura e verdade
No chão da vida, nasce o povo de Deus
No Deus da vida, nasce o povo dos céus
(* Letra: Emerson Sbardelotti / Música: Lula Barbosa – a música pode ser escutada no myspace: www.myspace.com/emersonsbardelottioficial )
"A Mística e a Espiritualidade são uma aventura comunitária. Passagem de um povo que faz o seu próprio caminho seguindo Jesus Cristo em meio à solidão e às ameaças do deserto. Essa experiência espiritual é o poço do qual temos de beber. Ou mesmo, hoje, na América Latina, nosso cálice, promessa de ressurreição" (Gustavo Gutiérrez).
Que nossa juventude possa experimentar do cálice...há muita coisa a ser feita...o Reino ainda não chegou.
Na Paz militante do Reino da Vida!
No Sonho do Outro Mundo Novo Possível!
Para refletir:
1. Como estão a mística e a espiritualidade nos nossos grupos de base?
2. Se pode afirmar que há de fato uma mística e espiritualidade cristã e da libertação em Nossa América? Justifique apontando exemplos reais.
3. O artigo não está fechado nem encerrado, é apenas o início de uma discussão. Qual é a sua colaboração em relação à mística e espiritualidade que você gostaria que fosse acrescentada ao artigo?
Emerson Sbardelotti
Estudante do Curso Superior de Teologia do Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.
Autor dos livros:
O Mistério e o Sopro - roteiros para acampamentos juvenis e reuniões de grupos de jovens. Brasília: CPP, 2005.
Utopia Poética. São Leopoldo: CEBI, 2007.
Membro do grupo de assessores da PJ da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo.