Neste artigo pretendemos apresentar uma reflexão sistemática acerca da religiosidade juvenil. Demonstramos, antes de tudo, que precisamos nos dar conta de que a religiosidade juvenil tem mudado frequentemente devido a novas concepções e percepções aparentemente notáveis, porém, muitas vezes difíceis de serem aceitas por determinadas famílias e/ou pela sociedade. Objetivamente, tanto pelo tema bem como pela expansão proposta pelo artigo, não pudemos nos deter em aprofundar tais conceitos, mas sim apontar aspectos relevantes que influenciam, hoje, a relação do jovem com o sagrado. De uma maneira mais precisa destacamos a relevância da religião em sua vida e como o jovem cultiva sua religiosidade, ou seja, qual a sua relação com o sagrado diante de uma sociedade capitalista e hedonista. Na seqüência, apresentamos algumas reflexões abordando a importância de não estarmos alheios aos novos paradigmas da religiosidade juvenil. Pretendemos que o leitor tenha uma visão holística da religiosidade que permeia o mundo juvenil, contribuindo assim para sua transcendência. Abordar o tema “novos paradigmas na religiosidade juvenil” não é tarefa tão simples como parece, ainda mais a percebendo e analisando-a sob a ótica da pós-modernidade, na qual praticamente interfere de maneiras, muitas vezes maléficas na sociedade desmontando as balizas orientadoras da ética e da religião. Conforme descrito no doc. 85 da CNBB[1] (2007, p. 16): Nas últimas décadas, ao lado da cultura moderna vem-se fortalecendo a cultura pós-moderna. A pós-modernidade não é uma nova cultura que se contrapõe de modo frontal à modernidade. Contatam-se mudanças no cenário, grande velocidade e volume de informações, rapidez na mudança do cotidiano por parte da tecnologia, novos códigos e comportamentos. Devido à globalização e ao poder de comunicação dos meios eletrônicos, essas mudanças vêm penetrando fortemente no meio juvenil. E é a fase juvenil que mais sente este impacto, pois conforme já citamos, o jovem está em constante transformação e em busca de querer ser o melhor em tudo que faz e, consequentemente a sociedade lucra com isto. Basta observarmos a que níveis chegam as propagandas universitárias ou de consumismo. Em suma, colocam o jovem como um mero observador e “consumidor” de tudo. Assim temos, em parte, “o jovem que une a sensação de triunfo da modernidade avançada e o desejo de fruição da vida. Vê o mundo como um gigante vídeo-game colorido. Está sempre a jogar e ansioso por ganhar. Não sabe perder. Nasceu para triunfar.” (LIBÂNIO, 2004, 103). E, diante deste quadro, percebemos, de uma maneira silenciosa, as angústias, indagações, o desejo de responder às suas inquietações como também o de ser reconhecido pela sociedade mesmo que para isto abdique de alguns ou muitos valores éticos, morais, religiosos, recebidos pela família, escola e a própria comunidade religiosa. Conforme Sousa (1999, p. 123) Os valores aprendidos culturalmente constituem para nós, seres humanos, uma segunda natureza: o que consideramos bom, bonito ou verdadeiro parece corresponder à natureza das coisas e ser inquestionável. O tempo todo avaliamos atos como bons ou maus do ponto de vista ético, objetos como bonitos ou feios do ponto de vista estético e afirmações como verdadeiras ou falsas do ponto de vista do conhecimento. Essas avaliações se baseiam em critérios dos quais nem sempre estamos conscientes. Tais critérios funcionam como filtros que orientam nossa interpretação da realidade e, consequentemente, nossas decisões e comportamentos. E de mudança em mudança, de tempo em tempo temos uma juventude carregada de responsabilidade diante da vida (estudo, trabalho, lazer, consumismo, entre outras) e será que há um espaço para o sagrado? Como se configura a sua religiosidade, hoje? Há na sociedade uma espécie de self-service diversificado e atraente, que convida o jovem a experimentar várias religiões, fazendo com que ele consuma apena o que lhe parece significativo e que atenda as necessidades imediatas, formando assim uma identidade religiosa sincrética. Elíade (1995, p. 56), nos deixa claro que O indivíduo teria a possibilidade de tornar-se consciente do sagrado na medida em que essa experiência opõe-se ao profano. A partir dessa perspectiva, ele vai falar da coisa, do espaço, do tempo e da existência humana como sagrados. O seu pensamento aborda a experiência religiosa por meio de uma compreensão do divino como imanente. O ser humano busca sacralizar objetos, lugares, e diversos outros elementos como uma espécie de homenagem e gratidão e, ao mesmo tempo, para que o transcendente seja lembrado e adorado. Procura através de amuletos, estrelas, duendes, imagens de anjos e santos resolver os problemas pessoais de forma rápidas dando, assim, um sentido à sua vida. Trazendo em sua história pessoal a identidade religiosa familiar o jovem, muitas vezes questiona as regras de instituições como a família, a escola e a igreja, justamente aquelas em que ele mais confia e que mais respeita. Não satisfeito com sua tradição religiosa procura outras que atendam as suas necessidades existenciais. Essa necessidade de busca pela divindade faz com que criemos imagens desse ser que julgamos superior a todos os outros seres. Não criamos apenas imagens, mas práticas religiosas que acreditamos serem os meios de nos manter diretamente ligados ao transcendente. Temos então, por um lado, uma juventude que acredita ser a religião importante e que com ela se chega mais fácil ao transcendente e, portanto, participam das missas, cultos, eventos de igrejas, grupos de jovens, enquanto que encontramos também jovens que acreditam em Deus, porém não seguem nenhuma tradição religiosa. Segundo DNPJM[2] (2006, p. 82), há outros elementos relevantes sobre a religiosidade juvenil: As religiões são fontes de sentido e colaboram de forma decisiva na constituição de sua identidade e de sua visão de mundo; as igrejas possibilitam a reunião de jovens em grupos, constituindo lugares de agregação social e de exercício da cidadania. Muitos jovens saídos desses grupos religiosos têm colaborado de forma decisiva para a sociedade, inserindo-se em partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais e associações (...) Contudo, não podemos fechar os olhos diante de outra realidade. Há uma pluralidade quanto ao universo religioso juvenil e isto nos desafia a compreender este cenário e refletir em ações pedagógicas e pastorais a fim de contribuir com o jovem na busca de seu Ser humano e, sobretudo, o Ser divino. Por: Sandra Michelluzzi Biazotto Fonte:http://cesmarpastoral.blogspot.com/2009/09/religiosidade-juvenil.html REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Evangelização da Juventude: Desafios e perspectivas pastorais. São Paulo: Paulinas, 2007. DIÁLOGO: Revista de Ensino Religioso. São Paulo: Paulinas, v. 24, n. 51, ago. 2008. Diretrizes Nacionais da Pastoral Juvenil Marista: PJM – Pastoral Juvenil Marista/Secretariado Interprovincial Marista: São Paulo: FTD, 2006. LIBÂNIO. J.B. Jovens em tempo de pós-modernidade: considerações socioculturais e pastorais. São Paulo: Loyola. 2004. LOPES A. A Idéia sobre o Transcendente nas séries iniciais do Ensino Fundamental de Jaraguá do Sul. In: ELÍADE, M. O Sagrado e o profano. A essência das religiões. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. SOUSA, Vilma. Juventude, solidariedade e voluntariado. Fundação Odebrecht/Ministério do trabalho, 1999. -------------------------------------------------------------------------------- [1] CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Evangelização da Juventude: Desafios e perspectivas pastorais. São Paulo: Paulinas, 2007. [2] Diretrizes Nacionais da Pastoral Juvenil Marista: PJM – Pastoral Juvenil Marista/Secretariado Interprovincial Marista: São Paulo: FTD, 2006
quarta-feira, 24 de março de 2010
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