PRA COMEÇAR O PAPO... Na Semana da Cidadania queremos refletir sobre o trabalho como uma oportunidade de se organizar, de sonhar junto, de cuidar dos que trabalham com a gente. A dignidade humana também se realiza através do trabalho, do encontro com pessoas diferentes, do aprendizado e do crescimento coletivo, de alimentar os sonhos e de organizar lutas. Quando falamos de suor e sonho, queremos chamar a atenção que no trabalho, junto do esforço e da dor do peso do trabalho, está ali também a oportunidade de sonhar, de transformar as relações e de ser mais humano e mais feliz. No Evangelho de Mateus, Jesus lança o convite: "venham trabalhar na minha vinha". É desejo do Pai que a construção do Reino também passe pelo trabalho humano - e ninguém deve ficar de fora. No início do capítulo 20 desse Evangelho Jesus apresenta uma nova visão do trabalho: ele deve garantir a dignidade de todos/as e não ser instrumento que gera desigualdades. Diante dessa visão mais ampla e revolucionária, é urgente superar toda forma de exploração, violência e exclusão, e pensar o trabalho como a experimentação do novo na busca de um outro mundo possível, onde se gera vida, e não qualquer vida, mas uma vida plena e abundante. Até porque, não podemos nos esquecer: A JUVENTUDE QUER VIVER! A JUVENTUDE E O MUNDO DO TRABALHO "Não somos pescadores domingueiros, esperando o peixe. Somos agricultores, esperando a colheita, porque a queremos muito, porque conhecemos as sementes, a terra, os ventos e a chuva, porque avaliamos as circunstâncias e porque trabalhamos seriamente" Danilo Gandin Nas últimas décadas, a juventude do campo e da cidade tem presenciado e sofrido com o avanço das políticas neoliberais de reestruturação produtiva, que geram, entre outros problemas sociais, o desemprego estrutural e a precarização das relações de trabalho. Esta é uma realidade mundial, mas que atinge especialmente os jovens dos países mais pobres, mas é certo que, o problema que afeta a juventude não está isolado das dificuldades a que o conjunto da sociedade está sujeito. A luta pelo trabalho, como um dos direitos fundamentais do ser humano, e, central para sua realização pessoal, é uma tarefa importante. No entanto, é preciso ter o entendimento de que esta tarefa deve servir à libertação dos homens e mulheres (jovens ou não) e não à sua exploração e desumanização. “Não oprima o seu próximo, nem o explore, e que o salário do operário não fique com você até o dia seguinte” (Lv 19,13) Dados e informações de artigos e pesquisas sobre Juventude e Trabalho, contribuem para o olhar sobre a realidade da juventude brasileira no que diz respeito ao mundo do trabalho, como é o caso da pesquisa “Juventude e trabalho: alguns aspectos do cenário brasileiro contemporâneo” de Carla Coelho Andrade do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que, dentre muitas outras contribuições,nos mostra que: - O desemprego entre os jovens brasileiros é significativamente superior ao do restante da população. Ainda que, ao longo dos anos, tenha havido aumento das médias de escolarização dos jovens e uma melhora nas condições de trabalho – com alta da formalização –, não se observou aumento correspondente na oferta de empregos. - O ingresso no mundo do trabalho constitui-se, tradicionalmente, em um dos principais marcos da passagem da condição juvenil para a vida adulta. No entanto, nas últimas décadas, em funções de intensas transformações produtivas e sociais, ocorreram mudanças nos padrões de transição de uma condição à outra. O diagnóstico dominante aponta para as enormes dificuldades dos jovens em conseguir uma ocupação, principalmente em obter o primeiro emprego, dado o aumento da competitividade, da demanda por experiência e por qualificação no mercado de trabalho. Com isso, a transição para a vida adulta tem sido retardada. Duas são as principais justificativas da mudança: maior expectativa de vida para a população em geral, e maior dificuldade desta geração em ganhar autonomia em função das transformações no mundo do trabalho. - O adiamento do ingresso dos jovens adolescentes no mundo do trabalho, a princípio, pode ser considerado um fato positivo. Um grande número de pesquisadores e gestores argumenta justamente que é fundamental postergar a entrada no mercado de trabalho para permitir a estes jovens, sobretudo, a permanência na escola e a aquisição de diplomas escolares de nível mais alto, com vistas à obtenção de melhores postos de trabalho, tanto em termos de remuneração como de possibilidade de realização pessoal. Em 2007, 82,1% da população de 15 a 17 anos frequentavam a escola. No entanto, apenas 48,0% cursavam o ensino médio. Embora, ao longo dos últimos anos, a taxa de frequência líquida nesta faixa etária venha apresentando crescimento contínuo, ainda é bastante alto o índice de distorção idade-série, situação que favorece a evasão escolar. Muitos jovens terminam efetivamente por abandonar os estudos, com escolaridade ainda muito baixa, o que lhes subtrai um importante requisito para pleitear melhores empregos. - Isso não quer dizer que maior escolarização garanta automaticamente aos jovens o ingresso em bons postos de trabalho, pois o incremento na oferta de mão-de-obra qualificada não segue necessariamente o mesmo ritmo do aumento na demanda por profissionais qualificados (CASTRO e AQUINO, 2008). - Quando o jovem busca elevar a escolaridade, o faz combinando o estudo com a atividade laboral. Este tipo de situação demarca um modo particular de vivência do tempo de juventude, que não se identifica com aquilo que acabou se instituindo, inclusive no senso comum, como modelo de jovem universal: aquele que se libera do trabalho para poder se dedicar aos estudos e ao lazer. -Para muitos jovens, é seu próprio trabalho que lhes possibilita arcar com os custos vinculados à educação. Para muitos também, especialmente os integrantes das camadas populares, os baixos níveis de renda e capacidade de consumo da família redundam na necessidade do seu trabalho como condição de sobrevivência familiar. - Salienta-se que, mesmo quando o trabalho não é uma imposição ditada pela necessidade de subsistência familiar, o que por si só o justificaria, os jovens têm a tendência de encará-lo como uma oportunidade de aprendizado, de ter acesso a variados tipos de consumo e de lazer, de alcançar a emancipação econômica. Desse modo, a associação entre os baixos níveis de renda familiar e a possibilidade de o jovem estar inserido como estudante e trabalhador na estrutura ocupacional não é tão imediata quanto parece. São muitos os jovens cuja renda familiar possibilitaria uma dedicação exclusiva aos estudos, mas que acabam optando, ou melhor, escolhendo também trabalhar. - No que tange à inserção no mercado de trabalho, as trajetórias ocupacionais dos jovens têm sido marcadas pelo signo da incerteza: estes ocupam as ofertas de emprego que aparecem, normalmente de curta duração e baixa remuneração, o que deixa pouca possibilidade de iniciar ou progredir na carreira profissional. Isto sem que se tomem em consideração as rápidas transformações tecnológicas que se refletem no mercado de trabalho, modificando especializações em pouco tempo, e tornando obsoletas determinadas profissões. - Inquieta igualmente a persistência das desigualdades de gênero e raça/cor: piores rendas são exatamente as das jovens mulheres e as dos jovens negros (pretos e pardos). Ainda que os dados mostrem uma redução destas desigualdades, elas permanecem gritantes; - Hoje, jovens de todas as classes e situações sociais expressam inseguranças e angústias ao falar das expectativas em relação ao trabalho, no presente e no futuro. Eles vivenciam, de modo sofrido e dramático, o que alguns estudiosos têm chamado de “medo de sobrar” (NOVAES, 2007). Diante deste cenário e de outros tantos dados de pesquisas nesta área, é possível observar que a questão do trabalho tem se apresentado como uma das grandes preocupações dos jovens. Segundo a mesma pesquisa de Carla Coelho de Andrade, o trabalho é apontado pelos jovens como um dos principais direitos, além de ser uma das principais pautas na área de Políticas Públicas para a juventude. Observa também que está comprovado que é necessário desenvolver programas e ações de Estado que transformem a situação atual, levando-se em conta o aumento da vulnerabilidade deste grupo social, a limitada oferta de oportunidades, as especificidades da condição juvenil contemporânea e o contexto histórico. “Ser jovem, hoje, é ser afetado pelo narcotráfico, pela indústria bélica, pela maneira como funciona o mundo do trabalho. A juventude rural é o ‘espelho retrovisor’ do processo de desenvolvimento do campo e da cidade” (Regina Novaes) Os jovens do meio rural estão, mais do que nunca, na busca de ampliar seu espaço. Lutam pelo acesso à cultura, à educação, às tecnologias e a renda, sem deixar, no entanto, de valorizar suas raízes campesinas. Para muitos que atuam na agricultura familiar, a escolha profissional implica em decidir que caminho seguir: sair ou ficar? Pensar nestes problemas enfrentados pela juventude no campo é pensar nas dificuldades que atingem a geração de modo geral. Apesar das diferenças existentes entre a realidade do campo e a da cidade, não podemos perder de vista que todos nós sofremos as consequências e impactos do modelo de sociedade capitalista. Mas isso não é sinal de que o trabalho deixa de ter sentidos diferenciados, e para além do acesso à renda, o trabalho é significado pela juventude como independência, emancipação, possibilidade de aprendizado, de desenvolver a criatividade, de vivência da coletividade, de dignidade... Já diziam os Titãs que a “gente não quer só comida”. O trabalho é central para o ser humano, desde que seja concebido como força criadora, transformadora, como capacidade de realização pessoal, como tarefa de continuidade do projeto de Deus, de libertação individual e coletiva e não somente como forma de garantir as condições “necessárias para a sobrevivência”. “Formar na ética cristã que estabelece como desafio a conquista do bem comum a criação de oportunidades para todos, a luta contra a corrupção, a vigência dos direitos do trabalho e sindicais; é necessário colocar como prioridade a criação de oportunidades econômicas para setores da população tradicionalmente marginalizados, como as mulheres e os jovens, a partir do reconhecimento de sua dignidade.” (Documento de Aparecida - DA 406 b) É desafio para a juventude e para as Pastorais da Juventude, a presença de forma intensa na construção de um novo projeto de sociedade., de um projeto de vida que almeje o trabalho como produtor de sentidos .Está nos colocada a tarefa de construir e apoiar propostas alternativas (e significativas) de trabalho e de geração de renda e de VIDA. “A pastoral da Juventude ajudará os jovens a se formar de maneira gradual, para a ação social e política e a mudança de estruturas, conforme a Doutrina Social da Igreja, fazendo própria a opção preferencial e evangélica pelos pobres e necessitados.”(DA 446 e) Não há saída sem organização. Não há solução individual, apenas coletiva. Por isso, somos convocados e convocadas a trabalhar de forma coletiva e solidária, a olhar para a realidade de forma crítica. Somos chamados e chamadas a denunciar o trabalho como forma de violência, de morte, de exploração , de desumanização e a anunciar o trabalho que gera vida, realização, emancipação; que é criativo, solidário, fonte de desenvolvimento social e não apenas econômico. Somos convocados acima de tudo a sonhar... não o sonho dos que esperam, mas o sonho dos que trabalham e ajudam a construir um outro mundo, que já sabemos que é possível. “Vamos juntos gritar, girar o mundo. Chega de violência e extermínio de jovens” (Gisley Azevedo Gomes) TRABALHAR, POR QUÊ? Louvamos a Deus pelos talentos, pelo estudo e pela decisão de homens e mulheres para promover iniciativas e projetos geradores de trabalho e produção, que elevam a condição humana e o bem-estar da sociedade. A atividade empresarial é boa e necessária quando respeita a dignidade do trabalhador, o cuidado do meio-ambiente e se ordena o bem comum. Perverte-se ao visar só o lucro, atenta contra os direitos dos trabalhadores e a justiça. (DA 122) Pelo trabalho o homem transforma o mundo e constrói a si mesmo. Trabalhando construímos o mundo que nos rodeia! Olhe à sua volta e observe quantas coisas foram construídas pelo homem? Provavelmente a maior parte do que você vê é fruto do trabalho, seu e de outras pessoas. Mas não é só isso! O trabalho nos ajuda a construir nossa própria identidade! Já reparou que quando perguntamos a uma criança o que ela quer ser quando crescer, ela nos responde com o que ela quer fazer? Parece que o trabalho que fazemos diz alguma coisa sobre quem somos nós e qual nosso papel no mundo! Podemos não ser apenas o que fazemos, mas o que fazemos certamente diz alguma coisa sobre quem somos. Qual a importância do trabalho para você e para o seu grupo? No que vocês gostariam de trabalhar? Por quê? A sociedade se organiza para dividir o trabalho que precisa ser feito entre as pessoas... Dessa forma, cada um tem sua tarefa e todas as necessidades da coletividade podem ser atendidas. Isto sempre foi assim, em todas as sociedades. Por exemplo, em um navio, há quem cuide da vela, da navegação, da limpeza e da cozinha... Na nossa sociedade esta divisão é feita de uma forma muito mais complicada... Como tudo em uma sociedade capitalista é regido pelo Mercado, o trabalho não escapa à regra. Então se fala em Mercado de Trabalho. Isto significa que o trabalho é tratado como uma mercadoria e dividido de forma que algumas pessoas podem comprar o trabalho de outras. As pessoas que não têm outra opção vendem seu próprio trabalho para sobreviver! Você acha que o trabalho é uma mercadoria como qualquer outra? Por quê? O trabalhador que vende seu trabalho, recebe em troca um pagamento ou salário. O empregador paga o salário do trabalhador e fica com aquilo que ele produziu. O problema aqui é que geralmente o trabalhador recebe menos pelo seu trabalho do que o valor daquilo que produziu e quem comprou seu trabalho fica com a diferença. Pior ainda, muitas vezes o salário que recebe por seu trabalho é insuficiente até para que o trabalhador possa se manter e sustentar sua família com dignidade. Ao mesmo tempo há algumas pessoas que recebem salários altos e podem viver com luxo e conforto. Por que isto acontece? Será que o trabalho de uma pessoa pode mesmo valer mais do que o trabalho de outra? Afinal, todas as ocupações não são necessárias para o conjunto da sociedade? Por que então algumas profissões são mais valorizadas que outras? E para você? O que seria um trabalho digno? Vamos ver o que diz o Papa Bento XVI na encíclica A Caridade na Verdade: "Qual é o significado da palavra « decente » aplicada ao trabalho? Significa um trabalho que, em cada sociedade, seja a expressão da dignidade essencial de todo o homem e mulher: um trabalho escolhido livremente, que associe eficazmente os trabalhadores, homens e mulheres, ao desenvolvimento da sua comunidade; um trabalho que, deste modo, permita aos trabalhadores serem respeitados sem qualquer discriminação; um trabalho que consinta satisfazer as necessidades das famílias e dar a escolaridade aos filhos, sem que estes sejam constrangidos a trabalhar; um trabalho que permita aos trabalhadores organizarem-se livremente e fazerem ouvir a sua voz; um trabalho que deixe espaço suficiente para reencontrar as próprias raízes a nível pessoal familiar e espiritual; um trabalho que assegure aos trabalhadores aposentados uma condição decorosa." TRABALHO PARA A VIDA, NÃO PARA A MORTE A exploração do trabalho chega, em alguns casos, a gerar condições de verdadeira escravidão. Acontece também um vergonhoso tráfico de pessoas, que inclui a prostituição, inclusive de menores. Merece especial menção a situação dos refugiados, que questiona a capacidade de acolhida da sociedade e das igrejas. (DA 73) O discípulo-missionário, respondendo a este desígnio, promove a dignidade do trabalhador e do trabalho, o justo reconhecimento de seus direitos e de seus deveres, desenvolve a cultura do trabalho e denuncia toda injustiça. (DA 121) Muita gente acha que violência e desemprego não tem nada a ver. Acredita que o aumento do número dos assaltos, furtos e até homicídios não são também influenciados por uma piora nas condições de trabalho e aumento do desemprego. Para responder a essa pergunta, o economista Márcio Pochmann (no seu livro “e-Trabalho”) comparou os dados de violência e desemprego nas grandes regiões metropolitanas do país ao longo dos anos 90 e... surpresa! Para cada crescimento no número de desempregados, havia um crescimento proporcional nos índices de violência. E adivinhe quem mais sofre com a violência em nosso país? A juventude, é claro! Apesar de ser a parcela da população que é menos responsável por crimes hediondos, é a que mais sofre com os efeitos da violência doméstica, do bairro, no trânsito e até no trabalho. No trabalho? Pois é, há diversas formas de violência no trabalho. Uma delas é o assédio moral, você já ouviu falar? Assédio moral é quando o patrão ou algum/a funcionário/a da hierarquia ofende a dignidade de um/a subordinado/a através da humilhação, ridicularização, perseguição, isolamento, etc. visando desestabilizar a relação da pessoa com o ambiente de trabalho levando a perda da auto-estima e até gerando traumas. Outra forma de violência no trabalho é a super-exploração do/a trabalhador/a através de longas jornadas que podem chegar a 12, 15, 16 horas diárias. Muitos trabalhadores rurais são submetidos a diárias estafantes para colheita da safra e sequer recebem hora-extra pelo serviço, por exemplo. Nas cidades, encontramos empresas irresponsáveis que fingem não ver quando os seus funcionários são pressionados para que permaneçam no local de trabalho mesmo depois de “bater o ponto”. Tudo isso gera uma situação delicada pois muitas vezes os empregados têm medo de reclamar e perder a única fonte de recursos que têm para manter suas famílias. O pior é quando essas cargas exageradas geram as doenças laborais, ou seja, a pessoa fica doente de tanto trabalhar. Um exemplo são as lesões por esforços repetitivos (LER), que causam inflamações nas articulações e fortes dores quando a pessoa tenta fazer determinados movimentos. Há também comerciantes inescrupulosos que se utilizam do trabalho de imigrantes ilegais (especialmente da América Latina e Ásia) como forma de conseguir mão de obra barata para colocar produtos a preço mais baixo no mercado e obter mais lucro. Esses imigrantes são condenados a trabalhar em verdadeiros regimes de escravidão! Infelizmente também encontramos em muitas cidades uma triste realidade ainda por ser erradicada de nosso país: a exploração do trabalho infantil. O sociólogo Ricardo Antunes vem nos lembrar que na sociedade atual “Os que têm emprego trabalham muito, sob o sistema de 'metas', 'competências', 'qualificações', 'empregabilidades' etc. E, depois de cumprirem direitinho o receituário, vivem a cada dia o risco e a iminência do não trabalho.” Aí chegamos a um ponto crucial que vale a pena colocar na mesa para conversar: qual o papel das Leis Trabalhistas para regulamentar e proteger o trabalhador/a? A partir do que diz o Documento de Aparecida, o que faz a Igreja (e também o nosso grupo, comunidade, diocese, etc.) para promover a dignidade e combater a injustiça no mundo do trabalho? Refletindo em grupo com a Bíblia “Os latifundiários exploram e roubam, oprimem o pobre e o indigente e exploram o imigrante, violando seus direitos. Procurei entre eles alguém que fizesse barreira, que ficasse firme na brecha para me enfrentar e defender o país, para não deixar que eu o destruísse, mas não encontrei ninguém.” (Ez 22,29) O profeta Ezequiel viveu por volta do ano 600 antes de Cristo e naquela época já tinha dificuldade de encontrar alguém que levantasse a voz para defender os oprimidos. E hoje? Conhecemos alguém que faça algo para melhorar a situação dos/as trabalhadores/as? O que fazer quando convivemos ou sabemos de situações de violência, doenças laborais ou exploração no trabalho? NOSSO SONHO E SUOR “Venham trabalhar em minha vinha” (Mt. 20, 1-16) Tudo o que criamos com nossas próprias mãos e pensamentos é nosso trabalho, nossa contribuição para a obra da criação, e transformação da natureza em cultura: nosso jeito de ser, agir, pensar e se comportar individual e coletivamente. Ainda que prevaleça em nossa sociedade a lógica imposta do “trabalho para a sobrevivência a qualquer custo”, da transformação da força do trabalho em mercadoria, do trabalho como lugar de exploração e violência, precisamos construir coletivamente a superação dessa lógica a partir de alternativas possíveis: trabalho como lugar de convivência saudável, de prevalência da justiça, de concretização de sonhos. Nossos sonhos se concretizam no trabalho material ou intelectual que realizamos, fruto de nossa vocação e projeto de vida. Quando o fruto do nosso trabalho corresponde àquilo que sonhamos, planejamos e realizamos em comunidade, é sinal de que estamos realizando, pondo em prática, também o sonho do Deus da Vida, contribuindo com sua obra criadora. É também construção do Reino de Deus. Aqui sim, o trabalho adquire outros sentidos, diferentes do sentido de “produção-exploração” que a sociedade capitalista lhe dá. Aqui, trabalho se concebe como concretização da vocação a que somos chamados, colaboradores na tarefa de criar e produzir nova cultura: cultura da solidariedade, cultura de justiça, cultura de distribuição ao invés de acúmulo, cultura de paz! Aqui, trabalho é criatividade, espaço onde os sonhos tem lugar! E já sabemos que “sonhos que sonhamos juntos, já são começo da realidade”! Nosso sonho, porém, deve ser acompanhado da luta: por justiça nas relações de trabalho, por respeito aos direitos dos trabalhadores, pela urgência da reforma agrária e condições dignas de trabalho no campo, pelo direito à renda, saúde e vida digna, todos valores ligados ao trabalho e à dignidade de todos os jovens e de toda pessoa humana. No Evangelho (Mt 20, 1-16 – vamos ler??), Jesus se utiliza de uma parábola para apresentar essa nova lógica a respeito das relações de trabalho. Fala de um patrão que paga, ao final do dia, o mesmo salário a todos os trabalhadores. Embora alguns tenham suado durante doze horas e outros tenham trabalhado menos tempo, todos têm uma família para levar adiante. Por isso paga a mesma coisa para todos. Não esbanja pagando mais que o habitual, mas não permite que ninguém fique sem o necessário para aquele dia. Na obra “Um tal Jesus”, encontramos esse trecho do Evangelho contado em forma de diálogo. Após, segue a seguinte reflexão a respeito: “Diante desta parábola muita gente reage com indignação, com amargura. São mentalidades comerciais: a tanto de esforço, tanto de prêmio; a tantas horas, tanto de pagamento. O que sair disso, é injusto. Mas Deus não é um banqueiro, um capitalista eficaz. Nele não há números, há sentimentos. Ele tem coração. As mentalidades mesquinhas ficam incomodadas com os gastos do generoso. Por isso esta história sempre será escandalosa para todas aquelas pessoas que pensam só em méritos para se “assegurarem” do céu. A primeira comunidade cristã repetiu o gesto do bom patrão: dava a cada um segundo suas necessidades, não segundo o que produzia (At 2, 44-45). A autêntica justiça é mais qualitativa que quantitativa, busca a unidade e não a uniformidade. Postula que cada um se desenvolva tal como é, em todas as suas possibilidades. Que cada um possa viver. Para além da justiça estrita da diária necessária, Jesus propõe também neste episódio o tema da felicidade. No fundo, por trás de todos os nossos atos, todos os seres humanos, estamos perseguindo sempre uma e mesma coisa: a felicidade. Todos os desempregados que se encontravam na praça e todos os moradores de Cafarnaum estiveram falando de pranto, todos reclamando sua felicidade. Pois bem, Jesus diz que esta felicidade chegará para todos e que Deus não faltará à sua promessa de bom patrão. A história humana, cheia de injustiças e dores, será resgatada pelo amor de um Deus libertador. E também será resgatada a pequena história de cada um, com suas lágrimas e suas dificuldades. Porque o projeto de Deus é que sejamos felizes hoje e para sempre. Esta é a certeza da nossa fé (Rm 8, 31-37)”. (Veja o texto completo em http://www.untaljesus.net/texpor.php?id=1300061, ou no site: www.ipejota.org.br – “publicações”, ou no fascículo 3 impresso da coleção de “Um tal Jesus”). Para refletir em grupo: 1. Em nossa realidade, há exemplos de jovens que sonharam juntos e inauguraram novos modos de viver o trabalho, novas formas de convivência no trabalho, de geração da renda e pagamento pelo trabalho desenvolvido? 2. A realidade da juventude com relação ao trabalho no nosso país é diferente da realidade de outros países da América Latina? Vamos participar do Projeto de Revitalização da Pastoral da Juventude Latino Americana e da preparação do III Congresso Latino Americano de Jovens, e acompanhar as reflexões sobre a realidade da juventude latinoamericana? Que tal sonharmos um novo mundo do trabalho possível, em comunhão com jovens de toda a América Latina? Informações na internet: www.pjlatino.redejuventude.org.br DICAS DE AÇÃO PARA A SEMANA DA CIDADANIA Para dinamizar a realização da Semana da Cidadania que tal promover alguma(s) das sugestões abaixo? - Pesquisar quais políticas públicas para o trabalho existentes na sua cidade. Elas funcionam? Quantos jovens são beneficiados? Como poderiam ser melhoradas/ ampliadas? - Existem iniciativas de Economia Solidária ou Projetos de Geração de Renda na sua região? Que tal uma visita para conhecer mais de perto? - Os sindicatos ou associações profissionais são atuantes? Que propostas têm para melhorar a vida do/a jovem trabalhador/a? - Vocês sabiam que a cultura pode ser uma boa oportunidade de trabalho? Conhecem alguma trupe de teatro, banda, grupo folclórico ou de dança formado por jovens? Isso pode ser visto como uma forma de trabalho? - Que espaços de apoio ao trabalhador com serviços de orientação, formação, divulgação de vagas, etc. existe na sua localidade? - Promover oficinas de elaboração de currículos, acompanhamento vocacional, elaboração de projeto de vida, etc. - Quais oportunidades são oferecidas por organizações terceiro setor (ONGs, Associações, Institutos). Vocês já pensaram em se organizar como ONG e elaborar projetos? - Que tal realizar uma atividade (feira, seminário, debate, etc.) sobre tudo isso que conversamos? ANEXOS JUVENTUDE E TRABALHO Waldemar Rossi* A cada ano, cerca de 1 milhão de jovens atingem a idade de 16 anos, abrindo perspectiva para entrar formalmente no universo do trabalho. Se considerarmos que mais de 85% da população brasileira são trabalhadores, teremos então um elevado número de jovens que anualmente procuram trabalho. Os dados oficiais, porém, não são animadores porque, segundo o IBGE, ao menos 40% desses jovens não encontram trabalho. E para os que encontram “um lugar ao sol” os salários são irrisórios, variando entre meio e dois salários mínimos, sendo que a média gira em trono do mínimo nacional. O quadro se agrava quando olhamos o resultado do modelo de educação em que a maioria dos jovens que findam o ensino médio não alcança a média aceitável do aprendizado “Quase metade dos 2,6 milhões de alunos que prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009 teve notas inferiores a 500 pontos estabelecidos como média pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela prova, em todas as quatro áreas avaliadas.” (Estado de São Paulo de 29 de janeiro de 2010 – A17). Com isto não conseguem ter o discernimento necessário a um bom desempenho no contexto de sua vida pessoal, familiar, de trabalho e política. Perguntamos: O que fazem, em geral, os jovens que buscam trabalho e não encontram? O que o mundo capitalista lhes oferece? Que perspectiva de vida feliz terão? Outro fator a ser considerado é que os trabalhadores produzem a riqueza do país (empresário não produz, vive da produção dos seus empregados), porém, esses que produzem ficam com parte insignificante da distribuição da renda gerada, insuficiente para manter sua vida e a vida de sua família com um mínimo de dignidade de seres humanos que são - criaturas de Deus. A economia que vigora no mundo capitalista é concentradora de riquezas nas mãos de uns poucos e multiplicadora de miséria para a imensa maioria. Com a chegada do neoliberalismo essa concentração se intensificou. Tal fator se agrava quando entendemos que os Estados - modelo burguês - estão organizados em função do capital e não do bem estar do povo. Assim, todo planejamento nacional se faz em torno dos interesses das grandes empresas, em detrimento da qualidade da vida do povo. Nesta fase do neoliberalismo, a fome já atinge a 2/3 da humanidade – mais de quatro bilhões de pessoas -, segundo a ONU. Ainda que em alguns países, por questões históricas, o padrão de vida esteja acima da maioria das nações, ali também prevalece a precária distribuição da renda, com miseráveis se amontoando pelas ruas. Como nos revela a CF-10, a atual estrutura econômica em nível mundial é uma afronta ao projeto de Deus que deseja “vida em abundância“ para todas as suas criaturas. Nesse contexto, considerando ainda que os países imperialistas (EUA e países da União Européia) procuram dominar nações menos poderosos, para delas extrair riquezas, as guerras se multiplicam dizimando gerações de adultos, de jovens e de crianças. Enquanto que, internamente, com o campo aberto ao tráfico de drogas, verdadeiras guerras civis são travadas. E a juventude é a mais atingida, principalmente os pobres e negros, tanto no Brasil assim como na Europa e Estados Unidos. Sem trabalho ou com sua super exploração, o que o mundo capitalista deixa para a imensa maioria da juventude é uma vida sem perspectivas, embora continue a lhes oferecer um paraíso aqui na terra, se consumirem seus produtos, enquanto nega-lhes os meios para adquiri-los. Não é por menos que presenciamos jovens alienados, desesperados, sem sequer compreender o que se passa e quais as causas da sua marginalização e miséria. O desafio, então, que se coloca, para nós cristãos, é como desenvolver um amplo trabalho de conscientização e de organização da juventude visando prepará-la para exigir profundas mudanças estruturais, como no caso do Brasil. O presente e o futuro estão nas mãos da juventude e esta precisa se capacitar para exercer seu protagonismo no mundo da cultura, do trabalho, da economia e da política (no seu amplo sentido, não unicamente partidário). Para tanto é preciso repensar a organização e a função do trabalho, colocando o ser humano como o destinatário de toda a produção e não o homem a serviço da produção. Repensar a organização da Nação tendo seus Poderes sob controle popular e voltado, em primeiro lugar, para o bem comum. * Assessor da Pastoral Operária (São Paulo) MATERIAL DE APOIO Filmes: Ilha das Flores - Este filme retrata a sociedade atual, tendo como enfoque seus problemas de ordem sociais, econômicas e culturais, na medida em que contrasta a força do apelo consumista, os desvios culturais retratados no desperdício e o preço da liberdade do homem, enquanto um ser individual e responsável pela própria sobrevivência. Um tomate é plantado, colhido, vendido e termina no lixo da Ilha das Flores, entre porcos, mulheres e crianças (12 min. - disponível no Youtube) Diamante de Sangue - No país africano Serra Leoa, na década de 90, o filme acompanha a história de um mercenário sul-africano e um pescador. Seus destinos são unidos por conta da busca por um raro diamante. Com a ajuda de uma jornalista, eles embarcam numa perigosa jornada em meio a uma guerra civil (138 min) A Máquina - Em Nordestina, cidadezinha perdida no sertão, uma jovem sonha em ser atriz e partir para o mundo. Antes que seu amor lhe escape, seu admirador adianta-se numa cruzada kamikaze para trazer o mundo até ela. Uma história em que os sonhos contradizem a realidade, as condições geográficas e políticas ameaçam conter a vida, e o amor desempenha o papel de elemento transformador (95 min) A História das Coisas - Da extração e produção até a venda, consumo e descarte, todos os produtos em nossa vida afetam comunidades em diversos países. O documentário revela as conexões entre diversos problemas ambientais e sociais, e é um alerta pela urgência em criarmos um mundo mais sustentável e justo (20 min. - Disponível no Youtube) Tempos Modernos - Um trabalhador de uma fábrica sofre um colapso nervoso por trabalhar de forma quase escrava. Ao se recuperar, encontra a fábrica fechada e, confundido com o líder de uma greve, acaba preso. Saindo da prisão, encontra uma jovem em apuros e a ajuda. Os dois se unem atrás de emprego e vivem uma série de aventuras (88 min) Na Natureza Selvagem - Após concluir seu curso universitário, um brilhante aluno e atleta abre mão de tudo o que tem e de sua carreira promissora. O jovem doa todas as suas economias para caridade, coloca uma mochila nas costas e parte para o Alasca a fim de viver uma verdadeira aventura. Ao longo do caminho, ele se depara com uma série de personagens que irão mudar sua vida para sempre (140 min) Músicas: Cidadão - Zé Geraldo Até Quando - Gabriel Pensador Pedro Pedreiro - Chico Buarque La Plata - Jota Quest De Volta ao Planeta dos Macacos - Jota Quest Um Homem Também Chora - Gonzaguinha Trabalho e Festa - Gonzaguinha Comportamento Geral - Gonzaguinha Poesias Operário em Construção - Vinicius de Morais José - Carlos Drummond de Andrade Canção Óbvia - Paulo Freire O homem, As Viagens - Carlos Drummond de Andrade Sítios O material Completo está no link abaixo: http://pjpira.wordpress.com/2010/03/23/materiais-da-semana-da-cidadania-2010/
terça-feira, 23 de março de 2010
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