Olá. A proposta desse pequeno texto é motivar a discussão sobre o futuro da Pastoral da Juventude. Nossa intenção é apontar alguns elementos que julgamos fundamentais para que a Pastoral da Juventude continue sendo um grande instrumento de evangelização na construção do Reino aqui e agora em busca da Civilização do Amor.
Para falarmos de futuro temos que analisar passado e presente pois todas e todos somos reféns de nossa história.
A Pastoral da Juventude tem se mostrado um grande instrumento de evangelização para a transformação de nossa sociedade carregada de valores anti-cristãos. Podemos ressaltar como aspectos positivos da PJ a vivência em comunhão, a leitura crítica da realidade, a opção pelos mais carentes. No entanto também não podemos fechar os olhos para os aspectos que impedem um maior avanço: pouca ligação das coordenações com a base, pouca rotatividade nas coordenações, pouco diálogo com outros organismos da Igreja que trabalham com juventude.
A PJ pelo seu ímpeto juvenil e pela sua história tem a responsabilidade de ser a abre alas para o avanço de nossa igreja juntamente com outros organismos que enxergam os caminhos para a construção do Reino aqui na terra. Avanço esse que se faz urgente pois o mundo está mudando rapidamente e nossa igreja tem dificuldades para evangelizar nesse ambiente de constantes transformações. A PJ sempre muito corajosa pode e deve ir fazendo a tradução dessas transformações para a nossa igreja de maneira sobretudo bem fraterna.
A PJ tem dupla missão: Dialogar para dentro e para fora de nossa igreja. Para dentro tentando unir forças com os organismos que realmente optaram pelo projeto de Jesus Cristo. Para fora lutando contra o sistema opressor que se impõe hoje em nossa sociedade.
Tendo isso em vista esse texto apresenta pistas para tentar discutir qual deve ser o futuro da PJ, o futuro da PJ que queremos. Baseamos esse debate em alguns eixos fundamentais descritos abaixo:
Enxergar a Realidade para Poder Transforma-la: Ao olharmos a realidade do jovem hoje o que vemos é desalentador. Desemprego, a falta de escolas e ensino digno, falta de saúde, falta de espaços para lazer e cultura etc. Essa realidade faz que com que o jovem entre em um “jogo” do salve-se quem puder deixando para traz a solidariedade elemento fundamental na prática de nossa igreja. Tendo isso em mente a PJ precisa evangelizar mostrando que as práticas precisam ser diferentes para a construção de um outro mundo possível. É necessário contradizer essa sociedade que limita a vida digna para uma pequena parcela de seres humanos. “Eu vim para que todos tenham vida”, essa deve ser a bandeira empunhada pela PJ. Mostrar que é possível uma sociedade inclusiva. Mostrar que a busca por esse consumismo desenfreado é a alma do capitalismo que gera tanta pobreza no mundo. “Os jovens estão dormindo acordados”, diz nosso companheiro Frei Beto, “não por culpa deles, mas por culpa desse sistema alienante.” A PJ deve ser a luz que clareia e mostra a realidade para que a juventude enxergue e seja protagonista nessa mudança.
Unidade na Diversidade: O documento 85 da CNBB nos fala de “Unidade na Diversidade”. A PJ precisa se abrir para uma discussão mais ampla com os organismo juvenis da igreja. Esse busca pela unidade só fortalecerá o trabalho com os jovens dentro da nossa igreja. Buscar espaços de comunhão, diálogo e partilha. No entanto essa unidade deve respeitar as especificidades de cada organismo para que não se perca a riqueza da diversidade de cada um. Também é fundamental que a busca dessa unidade se paute por organismos que realmente buscam a concientização do jovem para o projeto de Jesus Cristo pois sabemos que existe um grande número de organismos que alienam a juventude com um proposta descomprometida e imediatista. Essa diversidade também se dá para fora dos “muros” de nossa igreja onde encontramos uma imensidão de jovens que não são compreendidos em suas opções de vida. A sociedade atual preconiza que somente um caminho é possível e todos aqueles e aquelas que optam por um outro caminho são descriminados. A PJ tem uma missão muito grande nesse espaço também. Missão de acolhimento e debate pois todos e todas são filhos e filhas do mesmo Pai.
Formação: A sociedade hoje tem uma educação enquadrada na ideologia capitalista. Nossos jovens são educados para competir no mercado de trabalho e para “vencer”. Esse vencer descrito aqui entre aspas significa que outros e outras irão perder. No capitalismo não há lugar para todos. Essa é a educação que nossos jovens e crianças recebem hoje. Nos precisamos substituir a palavra competição por coolaboração. E a PJ tem um papel fundamental para mudar esse processo: 1. Lutando para que o currículo da escola formal brasileira seja coerente com a realidade do povo, valorize a conciência crítica, incentive o protagonismo formando educandos e educadores com uma visão libertadora e de justiça, 2. Criando espaços próprios de formação onde possámos com o nosso método também fazer formação continuada aliada com a nossa fé no projeto de Jesus Cristo. Contar a história da igreja que por muitas vezes negou o projeto mas que também por muitas vezes o acolheu com muito compromisso como são provas as vidas entregue pelos nossos mártires em busca da liberdade.
Espiritualidade: A espiritualidade hoje é vista como algo transcedental, distante. O trabalho da PJ é trazer o jovem para a espiritualidade libertadora do projeto de Jesus Cristo. Uma espiritualidade de integração com essa linda natureza que Ele nos proporcionou. Essa espiritualidade do agora, instatanea não leva o jovem a felicidade plena. Apenas alenta o seu coração de maneira superficial. Precisamos de uma espiritualidade ligada a nossa vida, uma espiritualidade transformadora. Hoje temos nos shoppings centers os grandes templos de adoração modernos. O consumismo é a alma do capitalismo que quer a humanidade seja transformada em um grande centro consumidor para alimentar a acumulação de dinheiro. Essa não é a nossa espiritualidade. A nossa espiritualidade é a espiritualidade do consumo conciente para que todos e todas possam ter as mesmas oportunidades. Essa espiritualiadade também deve ser inculturada proporcionando celebrações com irmãs e irmãos que buscam o projeto Cristão mas que não necessariamente estão em nossa igreja.
Vida em Comunidade: A vivência em comunidades como em Atos dos Apóstolos é fundamental para a vivência do projeto de Cristo. A criação de espaços próprios de convívio da juventude também é importante para o acolhimento. Espaços onde se possa celebrar e orar. As celebrações e a oração são momentos importantes onde o encontro pessoal acontece e é aprofundado, no silêncio e na contemplação. É necessário propostas concretas e específicas também para os adolescentes pois o período juvenil se extedeu e é necessário saber e atender as especificidades de cada grupo como afirma Dom Eduardo Pinheiro da Silva, Bispo referencial do Setor Juventude da CNBB. Também precisamos acolher uma nova juventude forjada junto com as tecnologias. Para isso precisamos de formação para o entendimento desse novo fenomeno: a tecnologia como ferramenta de novas relações sociais. Como entender as novas comunidade virtuais? Como agregar a elas os valores cristãos de relacionamento?. Questões que precisam ser refletidas e respondidas.
Os jovens que estão nas coordenações tem que ser exemplos para os que estão chegando sempre buscando uma vida pautada nos valores cristãos como fez nossa grande Mãe. Maria, pois o evangelho não é somente transmitido com as palavras mas também com gestos, olhares, posturas, sorrisos.
Além dos aspectos citados acima a PJ precisa utilizar o documento 85 da CNBB: Evangelização da Juventude e o documento de Aparecida como verdadeiros iluminadores de sua caminhada.
Esses são apenas alguns aspectos que julgamos fundamentais para que o futuro da PJ continue fundamentado no verdadeiro projeto de Jesus Cristo. Assim com Jesus a PJ deve formar e transformar a juventude hoje, amanhã e sempre. Transformar para o verdadeiro projeto de Cristo buscando a Civilização do Amor.
André Luís Bordignon
Assessor Leigo da Pastoral da Juventude da Diocese de Campinas.
Referências
1. Evangelização da Juventude, Desafios e Perspectivas Pastorais, Documento 85 da CNBB, 2007.
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