Somos “filhos do fogo”. O fogo ardente em Pentecostes faz com que todos se sintam cheios de novo sustento, de nova vida. Em outras palavras, sentem-se “animados”, ou seja, com alma, espírito.
O fogo incendeia o medo e a desconfiança. Todos se enchem de uma força e de um dinamismo jamais experimentado, que faz mover pessoas, corações e mentes. Sentem-se como que envolvidos pelo Espírito, que os permite falar uma linguagem que todos entendam.
Essa experiência acende uma animação que rompe fronteiras e barreiras. Assim, o Espírito faz ir além do fundamentalismo, da hipocrisia e da indiferença. Não há nada de mágico. Na verdade, as pessoas se deixam mover pelo Espírito, que habita o universo e os corações, e se deixam levar pelo sopro divino.
Quem se deixa mover pelo Espírito é imprevisível e não se deixa enquadrar pelas idéias cristalizadas e nem se fecha em atitudes petrificadas. Quem se deixa conduzir pelo Espírito não se contenta com a superficialidade e a mediocridade: abre espaço para a força do “mais”. Deseja voar mais alto e mergulhar o mais profundo, busca novidades, é dinâmico, muda de paradigmas e desfruta do presente, sem se desconectar do passado e do futuro. Quem assim o faz renascer sempre, a mudança é seu hábito de vida.
O poeta Fernando Pessoa descreve este processo vital: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma de nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
O Espírito é ardor, vibração, fogo que gera vida, que move, impulsiona e vai onde quer. De onde vem e para onde vai não é fácil dizer. No entanto, está presente, se faz sentir, age. Queima, despoja, separa, varre, empurra, levanta, expande... Aparecem e permanecem os sinais da sua passagem.
Esse fogo impetuoso, desafiador e perigoso, pois pode conduzir a direções inimagináveis. Envolve, mas não invade. Interroga, mas não condena. Arrasta, mas não constrange. Oferece, mas não impõe. Presente, vital, essencial, livre, libertador. Pode ser acolhido e tudo se torna novo.
Por isso, quem se deixa mover por Ele sente sua força e reconhece sua ação. E, sem perder o chão da realidade e da história, aspira por algo mais alto, mais profundo, mais bonito e transcendente.
Nosso tempo pede que sejamos homens e mulheres do fogo, que ajudam o mundo a respirar e sentir a vida palpitar; que buscam, na terra, viver o sonho do Reino; que alimentam as chamas da esperança nos corações sonhadores; que se reconhecem humildes ante a misericórdia e o infinito de Deus; que acreditam na força dos pequenos e dos gestos simples; que vibram com as conquistas justas e que se compadecem da miséria do humano; que cuidam de tudo e de todos com ternura e carinho.
Homens e mulheres do fogo somos todos nós, quando nos deixamos mover de acordo com os movimentos do coração de Deus e da paixão pela humanidade. Movidos pelo fogo, pelo Espírito de Deus, acreditamos e construímos mediações libertadoras que promovem, incentivam e enobrecem o espírito humano. Preferimos a proximidade à distância, o dinamismo à inércia, a criatividade à regras.
O Espírito é o fogo que vivifica, anima, restaura e congrega. Pela linguagem do amor, acende a luz da paixão e permite desenvolver os dons da alegria, do entusiasmo, da compaixão, do cuidado, da esperança e da fé inabalável. Tais atitudes construtivas não são obra nossa, mas dom e fruto, isto é, algo de agradável, de fascinante, de belo, de alegre, de espontâneo, de saboroso como um fruto.
Elas nascem da árvore do Espírito. Nós as vivemos, mas é o Espírito que as desperta em nós, pois elas estão presentes como “reservas de humanidade” em cada um de nós.
Estas atitudes construtivas não são patrimônio de alguns eleitos extraordinários; elas fazem parte da vida de cada dia e que contrastam com uma moral puramente limitadora ou impositiva. Trata-se de hábito de vida fecundo, criativo, propositivo, que constrói uma comunidade cordial, calorosa, empolgante.
Como “filhos e filhas do Fogo”, basta deixar-nos envolver, escutar o Ardor daquela voz que habita a dimensão mais profunda da vida e que se aninha nas cavidades mais secretas de nossa existência.
Não se trata de “fazer” ou de “realizar” , mas de deixar que o Dom traga o seu fruto. É algo de gratuito, de belo, de graça, de desejável, de restaurador.
É o Ardor que nos faz viver, e viver em plenitude!!!
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