• sexta-feira, 8 de abril de 2011

    Evangelização das Juventudes




    Um olhar de Medellín a Aparecida



    A Igreja possui uma enorme e plural experiência no que tange a Evangelização das Juventudes. Sistematizadas podemos citar ao longo da história alguns marcos, tais como a Ação Católica, Ação Católica Especializada, Movimentos Apostólicos, Pastorais da Juventude, Congregações e, mais recente, as Novas Comunidades. Além disso, a Catequese crismal é um importante e singular veio de Evangelização de adolescentes e jovens.

    A Igreja também tem uma série de Documentos sobre essa temática, além de dedicar nobres espaços nos documentos das Conferências do Episcopado Latino-Americano. A partir do Concílio Vaticano 2º, e mais precisamente desde as Conferências de Medellín a Aparecida, há uma discussão que urge ser dialogada com o contexto eclesial atual. No ano em que, como Diocese, tomamos nas mãos a prioridade da Evangelização da Juventude urge fazer memória desses Documentos. Ou sendo mais propositivo, urge ainda re-significar e re-contextualizar tais Documentos.



    O Concílio e Medellín



    O Concílio Vaticano 2º (1962-65) é um marco na história da Igreja. O Papa João XXIII afirmava que este era o momento da Igreja abrir suas janelas e deixar um ar novo entrar. Era recolocar a Igreja no seu tempo, firmando opções claras. Creio que ainda hoje, mais de 45 anos após o Concílio, não compreendemos e não assumimos a essência dessa profunda ruptura de paradigma.

    A Constituição Pastoral Gaudium Et Spes, afirma de modo contundente na sua primeira frase “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”. Na ótica da juventude, podemos fazer a releitura de que as esperanças e as alegrias, as tristezas e as angústias dos jovens, são também as mesmas de Cristo e de sua Igreja.

    O Papa Paulo VI, no seu discurso de abertura da Conferência de Medellín (1968), afirma que a Juventude é um tema “digno do máximo interesse e de grandíssima atualidade”. A Igreja se reconhece no rosto da Juventude. “A Igreja vê na Juventude a constante renovação da vida da humanidade e descobre nela um sinal de si mesma: a Igreja é a verdadeira juventude no mundo” (Medellín, pg. 101).

    A luz das aberturas conciliares, Medellín afirma que a Juventude é um sinal de revitalização em meio de uma cultura velha e caduca. É necessário pensar a Pastoral da Juventude (entendida no sentido amplo do termo) dentro da Pastoral de Conjunto, com uma proposta pedagógica orgânica (Medellín, pg. 103).



    Puebla e Santo Domingo



    No ano de 1979, os bispos reunidos em Puebla afirmaram que a Igreja na América Latina faz uma opção preferencial clara pelos Pobres e pelos Jovens. Aprofundando as perspectivas pastorais de Medellín, Puebla proclama “queremos oferecer uma linha pastoral global: desenvolve, de acordo com a pastoral diferencial e orgânica, uma pastoral de juventude que leve em conta a realidade social dos jovens em nosso continente; atenda ao aprofundamento e crescimento da fé para a comunhão com Deus e os homens; oriente a opção vocacional dos jovens; lhes ofereça elementos para se converterem em fatores de transformação e lhes proporcione canais eficazes para a participação ativa na igreja e na transformação da sociedade” (Puebla, pg. 365).

    A Pastoral Orgânica de Juventude deve ser o espaço forte do Processo de Educação na Fé, levando os jovens a uma experiência contínua de Deus e com o compromisso do serviço aos/as irmãos/ãs. Puebla nos lembra ainda uma importante dimensão na Evangelização: “seja a pastoral juvenil uma pastoral da alegria e da esperança, que transmita a mensagem alegre da salvação a um mundo muitas vezes triste, oprimido e desesperançado, em busca de sua libertação” (Puebla, pg. 368).

    A Conferência de Santo Domingo, em 1992, reafirmou a opção preferencial pelos jovens proclamada em Puebla. Opção essa não apenas afetiva, mas efetiva. Isto é, “a efetiva opção pelos jovens exige maiores recursos pessoais e materiais por parte das paróquias e das dioceses” (SD, pg.77). Santo Domingo trás um diferencial importantíssimo na perspectiva da Evangelização das Juventudes; re-significar a catequese de crisma. “Será preciso dar especial importância ao sacramento da Confirmação, para que sua celebração leve os jovens ao compromisso apostólico e a ser evangelizador de outros jovens” (SD, pg. 77). Sem (re)pensarmos a catequese de crisma é fragmentado e ineficaz qualquer trabalho de Evangelização das Juventude.

    Em Santo Domingo fica evidente a importância pedagógica, metodológica e evangelizadora das Comunidades Juvenis ou Grupos de Jovens. O documento é claro. “Para responder à realidade cultural atual, a pastoral juvenil deverá apresentar, com força de um modo atraente e acessível à vida dos jovens, os ideias evangélicos. Deverá favorecer a criação e animação de grupos, comunidades juvenis vigorosas e evangélicas, que asseguram a continuidade e a perseverança dos processos educativos dos adolescentes e jovens, e os sensibilizem e comprometam a responder aos desafios da promoção humana, da solidariedade e da construção da civilização do amor” (SD, pg. 78).



    A Novidade de Aparecida



    A Conferência de Aparecida trás a tona um novo paradigma eclesial; a conversão pastoral. Precisamos rever urgentemente as estruturas eclesiais que ficaram velhas e esclerosadas. Passa-se com isso, de uma pastoral de manutenção para uma Igreja toda ministerial e missionária.

    Os bispos da América Latina e do Caribe reafirmaram a idéia de revitalização. “Renovar, em estreita união com as famílias, de maneira eficaz e realista, a opção preferencial pelos jovens, em continuidade com as Conferências Gerais anteriores, dando novo impulso à Pastoral da Juventude nas comunidades eclesiais (dioceses, paróquias, movimentos etc)” (Aparecida, pg. 200). Isto é, cabe fortalecer o que já existe de tradição na ação evangelizadora das juventudes, bem como, ampliar o diálogo entre as diversas experiências pedagógicas e espiritualidades de serviço às juventudes. “Estimular os Movimentos eclesiais que tem pedagogia orientada à evangelização de jovens e convidá-los a colocar mais generosamente suas riquezas carismáticas, educativas e missionárias a serviço das Igrejas locais” (Aparecida, pg. 200).

    A Conferência reafirma também o processo de educação na fé tendo como um espaço privilegiado a catequese de crisma e, subseqüentemente, os grupos de jovens. Esse processo deve ter seu foco na inserção eclesial e social, buscando construir novas relações evangélicas entre as pessoas.

    É preciso ser Igreja em estado permanente de missão e conversão. Isto significa ter coragem de abandonar estruturas caducas e colocar-se sob a inspiração do Espírito Santo. É ter a constante atitude profética de João XXIII de abrir as janelas e deixar o ar puro entrar, para renovar, re-significar e re-colocar a Igreja constantemente no seu tempo.

    Sérgio Hauth Júnior

    serginhohjr@bol.com.br



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