Estamos comemorando nessa Semana da Pátria os 178 anos da Proclamação da Independência do Brasil em relação a Portugal. É claro que quando os portugueses chegaram aqui já havia uma população livre, independente, que foi subjugada e quase que totalmente dizimada ao longo do tempo. Depois da chegada dos portugueses, talvez o Brasil só foi ficando cada vez mais dependente.
Não sei se a palavra “independência” é a mais adequada para expressar o que queremos comemorar. Talvez não. Ninguém é independente. Todos precisamos uns dos outros. Num mundo globalizado, cada vez mais todos dependem de todos. Independência cheira auto-suficiência. Talvez a melhor palavra fosse autonomia. Ser autônomo é não ser dependente, passivo; é ter o domínio da própria história, é tomar iniciativas sem deixar de receber ajuda e de ajudar quem precisa. A interdependência hoje é cada vez mais necessária. Talvez fosse melhor entendermos e comemorarmos a interdependência.
Ter uma pátria, pertencer a uma nação é fundamental para a construção da nossa identidade. Amarmos nosso país, suas riquezas naturais e principalmente o seu povo nos faz caminhar no rumo certo do desenvolvimento. É claro que não vale aquele pieguismo alienante.
Para que um país seja de fato autônomo e desenvolvido, ele precisa se preocupar com seu povo. Como vive o nosso povo? Em quê situação está a nossa gente? É claro que temos muitas coisas a comemorar; por exemplo, a saída de muitas famílias da linha da miséria e da pobreza, um maior acesso aos direitos fundamentais: emprego, habitação, educação, saúde etc. Porém, muitos ainda são excluídos, muitos ainda estão de fora. É necessário olhar pelos excluídos.
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) propõe a cada ano a celebração do “Grito dos Excluídos”. Essa atividade acontece já há 16 anos. O tema do 16º Grito dos Excluídos é: “Onde estão nossos direitos? Vamos às ruas para construir um projeto popular”. Assim como falamos do famoso “Grito da Independência”, muitos ainda estão silenciados, com seu grito por libertação preso na garganta. É uma realidade o fato de muitos brasileiros e brasileiras ainda não terem voz nem vez.
A verdadeira cidadania acontece quando os cidadãos têm garantidos os seus direitos e assumem os seus deveres. Só quando as pessoas participam de fato é que a libertação acontece. A liberdade precisa ser conquistada. Daí a importância da conscientização e da organização. Quando as pessoas, através de uma boa análise de conjuntura, percebem como funciona a sociedade capitalista neoliberal, tomam a decisão de se organizarem para lutar por seus direitos. Só a organização popular garante a cidadania. Os governantes poderiam ser os melhores, mas sem a participação do povo não conseguiriam promover o desenvolvimento com justiça social e distribuição de renda.
Que nos voltemos para o Brasil, principalmente para os excluídos, a fim de que pelo menos num dia, não muito distante, todos possam soltar o seu grito de libertação.
* Pe. Sidney Fabril é coordenador da ação evangelizadora da Arquidiocese de Maringá.
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